O BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) tomou ontem conta do Complexo do Alemão após uma operação que envolveu uma força de 2600 homens. Como é que encara o desfecho desta invasão?.Tenho estado a acompanhar de perto as notícias. Esta operação teria de acontecer mais cedo ou mais tarde. Não era possível que a situação continuasse como estava. Mas acho que, até agora, ainda não havia vontade política. Finalmente, aconteceu aquilo por que todos esperavam..A imagem do Rio de Janeiro vai sair reforçada, agora que começam os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016?.Penso que este é um dos primeiros passos para acabar com a criminalidade na cidade, já que o Complexo do Alemão é o quartel general do Comando Vermelho, a principal facção criminosa do Rio de Janeiro. .O Henrique produziu o documentário Complexo - Universo Paralelo, resultado de vários meses de filmagens nas favelas deste complexo. Como é que conseguiram ter acesso ao local?.A oportunidade surgiu quando fizemos um videoclip para o artista MC Playboy. Conhecemos o complexo e achámos que havia conteúdo suficiente para avançar, apesar de ser um local bastante inacessível e de sabermos que um jornalista que lá entrou em 2002 [Tim Lopes] foi assassinado. Mas o Mário e o Pedro Patrocínio [os dois irmãos que assinam o filme] apaixonaram-se pelo sítio..O que é que mais o chocou enquanto lá esteve?.Chocaram-me as condições de vida das pessoas. Aquilo que a nós nos parece pouco, para eles é muito. As coisas melhoraram com o Programa de Aceleração e Crescimento (PAC), que resultou num investimento de milhões de reais nas favelas, mas as pessoas continuam a ter uma vida muito difícil. Agora, com a saída dos traficantes poderão haver algumas melhorias em termos económicos. As empresas começam a ver com os outros olhos aquela zona. .Passaram quatro anos a investigar antes das filmagens. Alguma vez pensaram desistir?.Tivemos de encontrar parceiros e tentar ajuda em vários lugares. Houve muitas portas que se fecharam, mas não, nunca pensámos em desistir. .No vosso filme, que marcou presença no Doc Lisboa 2010, é explicada a origem do nome Complexo do Alemão. Quer contar-nos a história?.Houve um polaco chamado Leonard Kaczmarkiewicz que nos anos 20 saiu do seu país e foi morar para a serra da Misericórdia. Como ele era estrangeiro e loiro, um "gringo", chamavam-lhe o alemão. .Continuam em contacto com as pessoas que conheceram?.Sim, claro que sim. Estive o dia todo a falar com pessoas que lá vivem através do Twitter e do Facebook. Todas dizem que não dava para continuar a viver daquela maneira. As pessoas queriam mudança e estão contentes que isto tenha acontecido..Já pensaram em voltar um dia?.Temos a hipótese de ir lá fazer um Complexo II. Há sempre a hipótese de voltar. Deixámos lá amigos.